quinta-feira, 13 de outubro de 2016

LIVRO - A ÁRVORE DA MENTIRA

Mais um livro para resenha. A Árvore da Mentira foi escrito por Frances Hardinge, uma escritora bastante peculiar, ganhou o Costa Book of Year deste ano, tem um título bastante curioso e um enredo mais interessante ainda. Acabei lendo esse livro online mesmo e o achei incrível! Ele foge muito daquela onde de romances/biografias/clássicos que ando lendo e para quem está procurando algo que envolva suspense, mistério, aventura e uma pitada de fantasia, esse deve ser o seu eleito! Ah, o resumo abaixo tem um tiquinho de spoiler, mas nada que vá prejudicar a leitura.

A história se passa no século XIX e gira em torno da família Sunderly. O patriarca é o reverendo Erasmus, muito importante, bastante misterioso e com grande conhecimento em ciências naturais. Ao seu lado, temos a esposa, o cunhado, o filho mais novo e Faith, a nossa protagonista, uma adolescente de 14 anos que se nega a aquiescer às regras da sociedade e nega mais ainda a sua suposta inferioridade aos homens e o fato de que a mulher é o sexo frágil - vamos falar disso mais adiante. A família desembarca na pequena ilha de Vane, onde em pouco tempo, descobre que, por alguma razão, não é nada bem vinda. E a primeira parte do livro se desenrola em torno da família e seus membros e dos mistérios da ilha e de seus moradores. 

A segunda parte, a que se mostra mais aventureira, se dá após a morte misteriosa do reverendo. Quando todos estão crentes de tratar-se de um suicídio, Faith está convicta de que seu pai foi assassinado. E para provar sua teoria, a menina terá de mexer nos manuscritos do pai, que mostrará outra face do patriarca e revelará segredos bastante perigosos. Dentre eles, uma árvore que, supostamente, é alimentada com mentiras e em troca, dá frutos que revelam verdades ocultas. 

O livro é bastante bom, prometo que será uma leitura bastante gratificante. Mas, além de a história ser ótima e a escrita deliciosa, eu achei que o livro tem uma pegada feminista muito forte! Só pelo fato de a protagonista, em pleno século XIX ser uma mulher e ser justamente ela a enfrentar todos os perigos e regras a resvendar o assassinato do pai, já é incrível. Mas, ele traz muitas passagens mais diretas, como a indignação da garota perante a constatação de um dos cientistas de que o cérebro feminino é menor e, portanto, as mulheres são menos inteligentes do que os homens, o fato dela não querer casar-se, mas sim, ter uma profissão e ser reconhecida pelos seus feitos, dentre outros. E tem um trecho muito emblemático, que a faz ficar irada, que é um diálogo entre ela e seu pai, no qual ele a coloca em seu lugar por ser uma mera figura feminina. Eu transcrevi abaixo: 
"Como ousa erguer a voz para mim? Como ousa falar se si mesma com tanto alarde, arrogância? De onde tirou essa vaidade repugnante? É isso que ganho por encorajá-la e permitir que acessasse minha biblioteca, minhas coleções? Por acaso você perdeu a cabeça, ou somente o senso de gratidão? Por acaso acha que merece as roupas que veste o teto que te protege ou a comida que te servem? Não. Não merece. Toda criança começa a vida em dívida para com os pais, que a abrigam, dão roupas e comida. Um filho pode algum dia pagar essa dívida ganhando algum dinheiro no mundo para aumentar as fortunas da família. Como filha, você nunca fará isso. Nunca servirá com honra no exército, nem vai se destacar nas ciências, nem fazer um nome para si na Igreja ou no Parlamento, nem ganhar a vida direito em qualquer profissão. Nunca será nada além de um fardo, e um dreno no meu bolso. Mesmo quando se casar, seu dote fará um rombo nos cofres da família. Você fala com tanto escárnio de Howard. (irmão mais novo)... mas se não se casar, algum dia vai precisar cotejar a caridade dele, ou se encontrará sem cama, sem casa."
Forte, né? 

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